sexta-feira, agosto 03, 2007

Cuide Bem Do Seu Lixo.


Pessoal, o dialogo abaixo trata de um assunto muito delicado: segurança da informação.
Não basta ter uma excelente estrutura de proteção da informação eletrônica e meios de controle de acesso, se as informações impressas ficarem abandonadas sobre as mesas, se não existir um tratamento adequado do lixo (informação impressa descartada). O lixo pode arruinar as estratégias de mercado de uma empresa, se cair na mão dos concorrentes. Isso vale tb para o lixo de sua casa. Portanto, fique mais atento e não jogue no lixo aquilo que não quer que alguém descubra.



NARRADOR: Dois vizinhos encontram-se na área reservada ao depósito de lixo do edifício. Cada um com seu pacote. É a primeira vez que se falam.

HOMEM — Bom dia...

MULHER — Bom dia.

HOMEM — A senhora é do 610.

MULHER — E o senhor do 612.

HOMEM — É.

MULHER — Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

HOMEM — Pois é...

MULHER — Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...

HOMEM — O meu quê?

MULHER — O seu lixo.

HOMEM — Ah...


MULHER — Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...

HOMEM — Na verdade sou só eu.

MULHER — Mmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.

HOMEM — É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...

MULHER — Entendo.

HOMEM — A senhora também...

MULHER— Me chame de você.

HOMEM — Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...

MULHER — É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra...

HOMEM — A senhora... Você não tem família?

MULHER — Tenho, mas não aqui.

HOMEM — No Espírito Santo.

MULHER — Como é que você sabe?

HOMEM — Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

MULHER — É. Mamãe escreve todas as semanas.

HOMEM — Ela é professora?

MULHER — Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?

HOMEM — Pela letra no envelope. Achei que era letra de Professora.

MULHER — O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

HOMEM — Pois é...

MULHER — No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.

HOMEM — É.

MULHER — Más notícias?

HOMEM — Meu pai. Morreu.

MULHER — Sinto muito.

HOMEM — Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

MULHER — Foi por isso que você recomeçou a fumar?

HOMEM — Como é que você sabe?

MULHER — De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

HOMEM — É verdade. Mas consegui parar outra vez.

MULHER — Eu, graças a Deus, nunca fumei.

HOMEM — Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...

MULHER — Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.

HOMEM — Você brigou com o namorado, certo?

MULHER — Isso você também descobriu no lixo?

HOMEM — Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.

MULHER — E, chorei bastante. Mas já passou.

HOMEM — Mas hoje ainda tem uns lencinhos...

MULHER — É que eu estou com um pouco de coriza.

HOMEM — Ah.

MULHER — Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

HOMEM — É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

MULHER — Namorada?

HOMEM — Não.

MULHER — Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
HOMEM — Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

MULHER — Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
HOMEM — Você já está analisando o meu lixo!

MULHER — Não posso negar que o seu lixo me interessou.

HOMEM — Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.

MULHER — Não! Você viu meus poemas?

HOMEM — Vi e gostei muito.

MULHER — Mas são muito ruins!

HOMEM — Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

MULHER — Se eu soubesse que você ia ler...

HOMEM — Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

MULHER — Acho que não. Lixo é domínio público.

HOMEM — Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

MULHER — Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

HOMEM — Ontem, no seu lixo..

MULHER — O quê?

HOMEM — Me enganei, ou eram cascas de camarão?

MULHER — Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

HOMEM — Eu adoro camarão.

MULHER — Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...

HOMEM — Jantar juntos?

MULHER — É.

HOMEM — Não quero dar trabalho.

MULHER — Trabalho nenhum.

HOMEM — Vai sujar a sua cozinha.

MULHER — Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

HOMEM — No seu lixo ou no meu?

Autor: Luiz Fernando Veríssimo
Enviado por Guilhermina Mendes, ADM. Fazendária de Sete Lagoas. Graduando no curso de Gestão Pública.

1 Commentários:

At quinta-feira, agosto 16, 2007, Blogger Marcos Araujo disse...

Oi Nayane. Esse diálogo é muito bom. Abraços, Marcos

 

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